Vestido novo: quadrados em marrom e rosa. Bolas vermelhas sobrepostas. Lindo vestido novo.
Furinhos aqui, ali, acolá, calando fundo na terra vermelha. Os filhos fazem a festa. Pisando nos buraquinhos no chão. Buraquinhos que em sequência vão marcando um trilho na caminhada.
A mãe saíra cedo com o vestido novo e os sapatos de salto. E salto bem alto e bem fininho a penetrar o chão, como penetrava a firmeza dos seus passos na longa caminhada da vida sofrida, de sol a sol, em geada e sereno.
O dia se reveste de uma importância inusitada. Já no Jeep do vizinho que a levaria à cidade, a mãe suspira preocupada com os filhos que ficaram. (Que mãe sai sempre preocupada).
Em casa, o pai chama os filhos com voz grave, manda lavar as mãos que o almoço está quase pronto. A filha mais velha põe a toalha xadrez surrada sobre a mesa redonda enorme. O pai mexe a panela muitas, muitas vezes, soca, esmaga bem aquele feijão e logo serve à mesa o feijão mexido, delicioso, inesquecível.
À tardinha, a mãe retorna entre contente e cismada. Contente com sua atitude. Cismada com o marido que, a cada suspiro, levantava as sobrancelhas e olhava-a de soslaio, enquanto lhe alcançava um mate, fingindo indiferença, escondendo o ciúme costumeiro.
Ignora o marido. Coisa pequena não pode atrapalhar felicidade grande. A partir daquele dia, teria direito a votar. Era uma cidadã, com documento qualificado: seu título eleitoral.
Vai para o quarto, troca a roupa, veste o roto vestido quotidiano, guarda os sapatos de saltos. Os sapatos que, naquele dia, marcaram o chão por onde pisara – que passos de mulher são para isto: para marcar – quer com saltos altos e vestidos novos, quer de pés descalços e vestidos rotos.
(Que o 8 de março sirva para que homens e mulheres reflitam sobre os reais problemas das mulheres em seus lares e na sociedade! Mulheres não precisam de parabéns e flor, precisam de respeito e amor…)
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