Nos corredores silenciosos noturnos do hospital, enquanto o eco dos passos ressoava, muitas vezes me encontrei imerso em pensamentos sobre a essência da medicina. Como médico, aprendi que mais do que prescrições e diagnósticos, nossa arte é feita de gestos. Gestos que transcendem o tangível, alcançando o âmago da alma daqueles que cuidamos.
Lembro-me de uma manhã especialmente desafiadora na UTI neurológica. Um senhor idoso iniciou com fortes dores de cabeça e ansiedade estampada em seu rosto enrugado. Enquanto realizava os exames de urgência, pude perceber que o simples ato de segurar sua mão trouxe um alívio palpável. Ali, naquele gesto singelo, residia a essência da nossa conexão humana.
Cada consulta é uma oportunidade de nutrir essa conexão. Às vezes, são palavras de encorajamento que acalentam um coração atribulado; outras vezes, é o silêncio compartilhado que fala mais alto do que qualquer discurso. São gestos que transcendem barreiras linguísticas e culturais, unindo-nos em uma dança de compaixão e compreensão mútua.
Em meio às demandas frenéticas da rotina médica, é fácil perder de vista a importância desses gestos. No entanto, são eles que transformam o ato de cuidar em uma verdadeira jornada de humanidade. Cada olhar, cada toque, é uma oportunidade de oferecer conforto e esperança em meio à adversidade.
Como médico, aprendi que não são apenas as terapias e os tratamentos que curam, mas sim a conexão genuína que estabelecemos com nossos pacientes. É através desses gestos que construímos pontes de confiança e empatia, sustentando uns aos outros nas horas mais difíceis. Mantenho sempre isto em mente.
O mesmo senhor da dor de cabeça não teve sequer tempo de saber o que estava a passar com seu corpo. Fora um AVC hemorrágico extenso que o acometera naquele instante do toque de mãos que o restringiu em um coma imediato e prolongado de 30 dias na UTI da capital e uma sequela na fala grave, que o deixara calado até o presente.
Recebi-o na última semana no consultório surpreso e muito feliz. Um AVC hemorrágico tem uma mortalidade de 50% em 30 dias. Com a língua não conseguiu agradecer o atendimento médico que o fiz, já que a sequela de fala o restringiu. Mas acenando com a sua mão esquerda, a única hoje com movimentos, em direção à minha mão direita e à sua cabeça em sentido de lembrança, conseguiu deixar a mensagem em sinais: obrigado por ter segurado minha mão naquele momento.
Sinais e atitudes dizem mais que belos discursos.
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