Querido leitor, permita-me questioná-lo: você tem verdadeiramente convivido em sociedade? Você, de fato, conhece seus vizinhos? Estas indagações, aparentemente simples, desvelam um cenário que merece nossa atenção.
A convivência em sociedade, o cerne da experiência humana, é um desafio constante, marcado por uma dualidade intrigante. Vivemos em cidades abarrotadas, rodeados por inúmeras pessoas, mas quantos de nós podem afirmar que realmente conhecem seus vizinhos, aqueles que compartilham o mesmo espaço físico?
A urbanização crescente e o avanço das tecnologias de comunicação parecem ter nos afastado do contato humano genuíno, levantando questões profundas sobre o estado de nossa convivência em sociedade.
A correria da vida moderna e as rotinas cada vez mais atribuladas nos deixam com pouco tempo para nos conectarmos com nossos vizinhos, amigos e conhecidos. A pressa é nossa companheira constante, e as redes sociais substituíram o diálogo face a face. Isso nos conduz a uma situação paradoxal: apesar de estarmos sempre rodeados por pessoas, muitos de nós se sentem solitários. A tecnologia veio para ajudar somente aqueles que detém inteligência emocional suficiente para dar a ela o que ela merece: avanços sociais. Contudo, gravemos nós: robôs não substituem afetos, carinho e troca de energia.
O isolamento social é mais do que uma mera consequência das circunstâncias. Muitas vezes, ainda, pode ser uma escolha. A falta de interesse em conhecer os vizinhos e a relutância em interagir com quem vive ao lado estão se tornando um padrão, refletindo uma sociedade em que a individualidade é valorizada em excesso.
Mas a que custo? Perder a conexão com aqueles que compartilham nossos espaços é perder uma parte essencial de nossa humanidade. Vizinhos podem ser uma fonte valiosa de apoio, amizade e pertencimento. Eles podem nos ajudar em momentos difíceis e compartilhar alegrias nas horas de festa. Além disso, o conhecimento mútuo e a solidariedade fortalecem os alicerces de uma comunidade coesa e resiliente.
Neurologistando, dia após dia, tenho a real convicção do isolacionismo que está a assombrar cidadãos que moram em comunidades pequenas até megalópoles. Adultos que moram a 3 metros de distância, que compartilham paredes lado a lado por décadas, e que comem comida sem sal nos domingos por não tomarem a atitude de tocar uma campainha e carinhosamente conectarem-se: “João, preciso de uma pitada de sal. Consegue-me?”. Não conseguirão o sal, inertes em suas casas. Mas conseguirão depressão, ansiedade e pânico.
A resposta às perguntas iniciais é vital. Conviver em sociedade não deve ser uma mera coexistência, mas sim uma oportunidade de interação e cooperação, de conhecer aqueles que nos rodeiam, de partilhar e construir relações que enriqueçam nossas vidas. Se você ainda não o fez, talvez seja hora de bater à porta do seu vizinho, compartilhar um sorriso e iniciar uma conversa. Afinal, a verdadeira riqueza de uma sociedade reside na força de seus laços humanos, e nossos vizinhos podem ser a chave para redescobrir essa riqueza perdida.
Como ele se chama? Como se chama o porteiro? Eles estão precisando de algo? Podemos nos ajudar?
Espero que sim. Podemos começar hoje.
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