Esta é uma crônica inspirada em um jovem neurologista e seu consultório.
Sábios pacientes por lá passam e ensinam este médico condutas que os livros por si só se abstêm. E que, diga-se de passagem, funcionam demasiado.
No cerne da expressão humana, reside uma arte ancestral que transcende as barreiras do tempo e da cultura: a dança. Os animais dançam. E lembrem: somos uma espécie deles. Esquecemo-nos. Que arrogância a nossa. Desde os primórdios da civilização, a dança tem sido um meio de comunicação e celebração que ultrapassa os limites das palavras. É através da dança que se estabelece uma troca íntima e singular de energia entre os indivíduos, uma simbiose perfeita que se nutre reciprocamente.
Recebi um jovem octagenário, da terra do Jaime, que me afirmou que dançar alimenta sua alma mais que o feijão de sua jovem esposa de 75 anos primaveras. A força magnética da dança é evidenciada no poder de dançar junto. Quando corpos se entrelaçam em sincronia, cada passo e gesto se convertem em uma linguagem universal, onde as palavras são desnecessárias. É uma experiência sensorial que transcende a mera percepção do movimento, indo ao encontro das sensações e emoções que ressoam em cada alma participante.
No entanto, um lamento ressoa nas entranhas do cérebro deste neurologista que vos escreve: a diminuição da taxa dos dançarinos atuais. O imediatismo que a era digital impõe sobre nossas vidas tem gerado uma desvalorização das interações presenciais, substituindo-as por relacionamentos superficiais e efêmeros. A dança, com sua profunda essência coletiva, sofre, por vezes, com a indiferença ou desinteresse por parte das novas gerações. Dancei 8 anos em CTG na cidade pirapoense. Foram tempos áureos que me desinibiram em tantos bailes e hoje reverberam em momentos múltiplos. É um desenvolvimento individual e coletivo, que facilita comunicação, promove amor e sacode a alma.
A perda do espaço dedicado à dança nas escolas, o afastamento dos núcleos culturais e a sobrevalorização do entretenimento individualizado têm contribuído para a invisibilidade dessa arte, diluindo sua importância no cotidiano das pessoas. O que outrora era um elemento essencial na formação humana, capaz de enaltecer o espírito e conectar comunidades, agora encontra-se negligenciado.
O octagenário, antes referido, liga a Vitrola que ainda funciona na estante e dança com a fiel companheira 45 minutos todos os dias. O joelho dói para caminhar no calcamento do seu bairro. Mas o assoalho de ipê do seu lar não promove dor alguma. É a melhor “fisioterapia” que ele me disse fazer. Baixou o triglicerídeo. E o peso. E o ronco. E a tristeza. Foi uma melhora global. LadoA: Os Montanari. LadoB: Danúbio Azul. Vinil. Ainda existe. Saibam.
A dança é um espelho da vida em movimento, e seu poder transformador reside na capacidade de unir, em um abraço transcendente, as almas que dela participam. É preciso despertar uma consciência coletiva para preservar e incentivar a dança, reconhecendo sua relevância como fonte de equilíbrio, inspiração e enriquecimento cultural.
É tempo de dança com a mãe. É tempo de dança com o pai. É tempo de dança nas escolas. É tempo de ser de verdade. Larguemos os celulares.
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